Compreendendo a neuroplasticidade cortical na deficiência visual

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Ranni Pereira Santos
Cláudia Regina Lourenço Lucas Bochnia
Bruna Girardi
Lívia Brum Spagnol
Graciele Ceccatto Rorbacker
Cristiane Liz Baptista Ballarotte

Resumo

Introdução: O processo contínuo de mudança cerebral, de “reorganização” dos circuitos neurais, e da recepção de novas atitudes ou pensamentos, é o que se chama neuroplasticidade. Um melhor entendimento de como o cérebro se adapta à perda da visão e quais são as consequências funcionais para as informações sensoriais restantes podem resultar em melhor qualidade de vida para os deficientes visuais.


Objetivos: Discorrer sobre o mecanismo de neuroplasticidade cortical na deficiência visual, e a importância deste mecanismo para pacientes com baixa visão e cegueira.


Método: A pesquisa foi realizada a partir da seleção dos artigos nas bases de dados PubMed e Scielo, abrangendo publicações em inglês e português. Utilizou-se os descritores: neuroplasticidade, plasticidade do córtex visual, plasticidade neural na cegueira, neuroplasticidade na deficiência visual.


Discussão: A noção de que a perda da visão é compensada parcialmente por outras modalidades sensoriais é bastante popular e serve para explicar o uso de alternativas comportamentais pelos deficientes visuais, como a leitura Braille. A audição tem papel destacado pela capacidade de análise espacial do ambiente, semelhante em vários aspectos à visão. Com efeito, foi demonstrado que os cegos possuem habilidades acima do normal em tarefas auditivas, tal como a localização sonora baseada apenas em pistas monoaurais


Conclusão: Os resultados dos diversos estudos mostram que a grande "seletividade" do sistema visual para o processamento de estímulos luminosos decorre principalmente dos métodos usualmente empregados para estudar esse sistema. Na ausência de visão, o córtex visual pode responder a estímulos táteis e auditivos, porque a ausência daquela permite o desmascaramento de conexões latentes, revelando assim a organização metamodal

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